GUERREIROS, CÃES E REIS [2022-2023]

Telma cresceu no Ceará e recentemente voltou ao Cariri cearense onde mergulhou nos chamados quilombos, cortejos festivos do Ciclo de Reis que vieram inspirar a série Guerreiros, Cães e Reis. 

Dia 6 de janeiro é Dia de Reis, o Dia da Epifania, marca da revelação do Menino Rei ao mundo. Tradições afirmam que os magos Baltasar, Gaspar e Melchior teriam sido sacerdotes zoroástricos, reis taumaturgos dotados da capacidade de curar, guerrear e guiar por meio da magia e da visão. 

Com elementos africanos e indígenas, o reisado escancara a sobrevivência nas Américas de ritos agrários mediterrâneos. Rumo ao desaguar de uma-sempre-a-mesma-nova-vida, é o reisado a luta entre a luz e a treva, o caos e a ordem. Apresentam-se reis e rainhas, príncipes e princesas, embaixadores e guerreiros em exércitos armados de capacetes e espadas, com armaduras e saias carregadas de fitas e lantejoulas. Cantando o nascimento do menino Jesus, elevam altares nas casas e terreiros. 

Enquanto lutam e louvam, abrem-se as porteiras do inferno e do purgatório, emergindo forças ctônicas das mais profundas zonas do cosmos. Comparecem saltitantes os entremeios, espíritos de entre-mundos, atazanando os viventes no intuito de impedir o retorno da nova ordem. São eles cães, mateus, almas, cangaceiros, bêbados, jaguarás e licantropos. 

GUERREIROS, CÃES E REIS [2022-2023]

Telma cresceu no Ceará e recentemente voltou ao Cariri cearense onde mergulhou nos chamados quilombos, cortejos festivos do Ciclo de Reis que vieram inspirar a série Guerreiros, Cães e Reis. 

Enquanto lutam e louvam, abrem-se as porteiras do inferno e do purgatório, emergindo forças ctônicas das mais profundas zonas do cosmos. Comparecem saltitantes os entremeios, espíritos de entre-mundos, atazanando os viventes no intuito de impedir o retorno da nova ordem. São eles cães, mateus, almas, cangaceiros, bêbados, jaguarás e licantropos. 

Presentes estão sempre o cão e o mateu. De cara preta, óculos escuros, chapéu medieval, cacarecos e cartuchos de bala, o palhaço mateu bate o pandeiro e empunha o cacetete, tomando de assalto a realidade mais concreta. Pede dinheiro pra pinga, posa pros turistas, arregala a boca que tudo come, a língua que tudo zomba. Vestido de guarda, é o desmantelo erigido em ordem, a obrigação do desobrigo, a falsificação de todos os valores: está tudo torto e trocado! 

Viva os bairros populares dos artistas e batalhadores da roça e da cidade: João Cabral, Romeirão, Campo Alegre, Pio XII, Frei Damião!

Lucas Parente